Sempre sonhei em encontrar o amor verdadeiro, mas ainda não havia encontrado. Hoje em mais um dia rotineiro, irei para o trabalho, meditando um pouco e sonhando em encontrar alguém. Esperando o ônibus sair, olhava pela janela, imaginando encontrar ela, a mulher dos meus sonhos. Só que nunca parei para pensar, ou imaginar, que ela poderia estar me procurando também.
Encostei minha cabeça no banco, ajeitei o fone ao ouvido, procurava uma estação de rádio qualquer, quando o ônibus, que já havia dado partida, freia e para novamente. Não tinha dia ensolarado mais lindo, ou noite de lua cheia com céu estrelado mais belo, que se comparassem àquela mulher que acabara de embarcar. Seus longos cabelos soltos até a cintura, um rosto de pele clara como a neve, olhos azuis penetrantes como o céu claro em dias de verão, um deslumbrante corpo em que um belo vestido verde-oliva cobria-o deixando ela com um ar de séria e reservada.
Uma flecha pontiaguda atravessara meu peito, fincando diretamente no coração, uma parada cardíaca não seria tão forte perto do que eu estava sentindo naquele momento. Meu mundo parou, não ouvia mais nada, não enxergava nada, não sentia mais nada, além de somente contemplar ela, a mulher que trouxe todas as manifestações da natureza.
Não sei se era azar ou pura sorte, mas o único lugar que restava, estava no meio do ônibus, do lado direito ao motorista, no assento do corredor, ao lado de um rapaz de camisa social preta de manga longa, com calça jeans, segurando sua mochila preta em seu colo. Imóvel, porém ofegante, até mesmo ao mais simples cumprimento de bom dia. Eu por dentro respondi o cumprimento, perguntei seu nome, pedi seu telefone, disse que era a mulher mais linda que já vi... Mas na verdade fiquei estagnado, nem mesmo o livro dentro da mochila havia pego, para que, pelo menos pudesse desviar um pouco a atenção que estava nela. Ao sentar-se no banco, nivelou o encosto até ficar confortável e relaxar ao som da música de seu ifone, também pude sentir um perfume maravilhoso, parecia que ela havia mergulhado num mar de rosas. Desliguei a música do meu celular, mas continuei com o fone no ouvido, só para ouvir um som qualquer que viesse dela, seu respirar, o mover dos lábios para acompanhar a música que ouvia, o toque dos dedos batendo harmonizados na bolsa de mão em seu colo, devido ao som que ouvia ou por alguma ansiedade que sentira naquele instante.
A viagem do ônibus seguia normalmente, não para mim, a esta hora, meus pensamentos eram voltados a ela, mas seguia na via principal, sentido ao centro da cidade. Como era hora de muito movimento, a viagem duraria em torno de uma hora ou uma hora e meia, engarrafamento e trânsito congestionado já eram de se esperar. Eu costumava sair uma pouco mais cedo de casa, justamente para evitar certos imprevistos, e pegava sempre o ônibus de ar-condicionado, para um conforto melhor.
E de repente, ouvi uma voz, achei que fosse a voz de algum anjo. Era ela, que havia me perguntado algo, mas nem havia entendido, estava saboreando aquele som de sua voz ainda. Me recompus e concordei, nem sei com o que, mas temi ser mal-educado perguntando de novo. Para não ficar só nisso, perguntei que horas eram e emendei a conversa sobre o trânsito. Nessa hora toda a tensão inicial já havia passado, parece meio bobo, mas sua beleza era hipnotizante.
O papo durou um pouco mais de dez minutos, nada de tão surpreendente, uma conversa casual para o momento, ela estava sendo simpática, fora que mexia muito com as próprias mãos, parecia ansiosa.
Até que chegou o ponto que eu iria descer, enquanto me ajeitava para levantar, ia me despedindo dela, desejando um ótimo dia de trabalho, ainda perguntei se ela costumava pegar aquele ônibus, ela nada respondeu, mas sorriu, e tirou um papel da bolsa, que para minha surpresa, colocou no bolso de minha camisa, e se despediu.
Ao descer do ônibus, peguei imediatamente o papel, arrancado de um bloquinho, escrito a punho. Ao lê-lo, fiquei surpreso:
"Há muito tempo que venho reparando você, sempre quis pegar o mesmo ônibus que estivesse, parece que hoje consegui..."
Douglas Faria
(Sonhador)